5 milhões de produtos são abandonados na boca dos caixas
Limitação do poder de compra e perda de referência de preços fazem consumidores desistirem de parte de suas compras
Pesquisa realizada pela Nextop, empresa que atua com tecnologia de segurança do varejo, mostra que nos últimos meses, com o avanço no preço dos alimentos, o brasileiro tem abandonado mais produtos na boca do caixa, quando o valor passa o previsto. Os itens tirados do carrinho vão de itens básicos, como óleo de soja, até supérfluos, como refrigerantes.
Entre janeiro e junho deste ano, 4,997 milhões de itens foram abandonados. É um volume quase 16,5% maior que o do primeiro semestre de 2021, ou 704,9 mil itens a mais, revela a pesquisa.
Por meio de inteligência artificial e de um grande banco de dados, foram extraídas informações autorizadas do movimento de caixa de 982 supermercados de médio e pequeno porte do País, que atendem a todas as faixas de renda e que juntos vendem R$ 5 bilhões.
De acordo com Juliano Camargo, CEO e fundador da empresa, para chegar ao volume de produtos abandonados foram reunidos itens cancelados e produtos que o consumidor consultou o preço e desistiu. “Um crescimento de 16,42% na quantidade de itens abandonados é altíssimo e reflete que muita gente deve estar tomando susto”, afirma Camargo. Apesar de não ter uma série longa de dados, ele acredita que as devoluções não teriam aumentado se a inflação de alimentos estivesse controlada.
Para o economista Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo (Ibevar), o tamanho da pilha de produtos deixados no caixa é a medida concreta do tamanho da crise. Ele ressalta, ainda, que indicadores de inflação, renda e emprego têm dimensão abstrata.
Além da falta de dinheiro, Felisoni acrescenta que a perda de referência de preços, provocada pela aceleração da inflação, e a pouca clareza da loja para passar a informação aos clientes podem contribuir para desistência da compra.
De acordo com a pesquisa, o ranking dos dez produtos mais devolvidos pelos consumidores no caixa de supermercado no primeiro semestre deste ano indica que a alta de preços da comida é generalizada: atinge pobres e ricos, com itens básicos e supérfluos.
A lista é liderada por refrigerante, seguida de leite, óleo de soja, cerveja e açúcar. Dos dez itens que mais sobraram na boca do caixa, quatro são básicos – leite, óleo de soja, açúcar e farinha de trigo — e seis não tão essenciais — refrigerante, cerveja, molhos, biscoitos, hambúrguer e bebida láctea.
A freada brusca do consumidor na reta final das compras provoca um efeito em cascata. O encalhe faz com que os supermercados comprem volumes menores da indústria e esfriem o ritmo de produção e atividade. “Hoje, o nível de estoques dos supermercados é o mais baixo dos últimos anos”, afirma o da Nextop.
Fonte: SA Varejo