REDES E CENTRAIS DE NEGÓCIOS: CRESCIMENTO E IMPACTOS NA ECONOMIA

por Letícia Lavor

Com o objetivo de crescer no mercado de forma integrada e competitiva, as Redes e Centrais de Negócio são alternativas para empreendedores que desejam unir forças sem perder suas independências.

Ao trazer um modelo que produz crescimento e fortalecimento comercial, este modelo de negócio cresce cada vez mais no Brasil. De acordo com uma pesquisa da Fundação Dom Cabral, concluída em 2021, existem mais de 500 redes no mercado brasileiro.

Entre os setores que mais se destacam, o varejo alimentício lidera com 113 redes, sendo seguido por farmácias e drogarias (96 redes), materiais de construção (80 redes), autopeças e mecânicas (29 redes) e varejo de móveis (15 redes).

Conversamos com o Professor e pesquisador na Fundação Dom Cabral e Especialista em estratégias colaborativas, redes e centrais de negócios Douglas Wegner para entender mais sobre o ecossistema de redes e centrais de negócios no Brasil e o impacto econômico dele. Confira a entrevista na íntegra:

RNS: Quais fatores têm contribuído para o crescimento das redes associativas e centrais de negócios no Brasil?

Douglas Wegner: Há vários fatores que contribuíram para o crescimento do número de redes associativas e centrais de negócios no Brasil nas últimas duas décadas. Um deles certamente foi o aumento da concorrência em muitos setores, fazendo com que pequenas empresas independentes tivessem muita dificuldade em se manter competitivas. Por outro lado, os exemplos bem sucedidos de redes associativas mobilizaram e motivaram mais empresas a aderirem a esse modelo ou a criarem novas redes. Muitos empresários perceberam que, se o associativismo deu certo em vários setores, também irá dar certo no seu setor e com o seu negócio. Acredito que esses dois fatores, somados, impulsionaram o associativismo empresarial no Brasil.

RNS: Qual a importância desse crescimento para a economia?

Douglas Wegner: Manter pequenas e médias empresas em funcionamento, gerando emprego e renda, sempre trará efeitos positivos para a economia local e regional. Essas empresas não só geram resultado, como também estão envolvidas nas suas comunidades. O dono do negócio reinveste localmente, participa das ações da igreja, da associação de bairro, promove ações beneficentes, ajuda a escola da comunidade e assim por diante. Então, quando as redes associativas se desenvolvem, elas levam junto as pequenas e médias empresas locais, que por sua vez têm esse impacto positivo para a economia. Precisamos apoiar as redes para fazer as pequenas e médias empresas crescerem e, por consequência, fortalecer a economia sem depender exclusivamente de grandes empresas.

RNS: Dentro de um comparativo, como está o monitoramento das redes e centrais após o ano da sua pesquisa?

Douglas Wegner: O número de empresas participantes de redes vem aumentando, mas o número total de redes se mantém relativamente estável. Surgem novas redes, mas outras encerram suas atividades ou então se juntam a redes maiores. Parece que, finalmente, estamos compreendendo que não faz sentido ter novas redes enquanto outras operam com número pequeno de associados, inviabilizando ganhos mais significativos. Minha projeção é que, em algum momento, teremos até mesmo uma redução do número total de redes em operação no Brasil, porque muitas irão colaborar entre si para aumentar a competitividade. Isso aconteceu em outros países, como Alemanha e Espanha, e deve acontecer também no Brasil. Menos redes, mas redes mais fortes e competitivas, que atuam no país inteiro ou pelo menos em regiões maiores.

RNS: Existem regiões do país onde o número de redes e centrais de negócio é mais expressivo?

Douglas Wegner: O Sudeste e o Sul do Brasil começaram antes o processo de criação de redes e centrais de negócios. O apoio do poder público e do Sebrae também fez com que, nessas regiões, fossem criadas muitas redes. Esse movimento levou a um ciclo de criação de novas redes porque muitos empresários viam os resultados e queriam o mesmo para o seu negócio. Além dessas regiões, é impressionante como surgiram redes também no Nordeste. As duas regiões em que há menos redes são o Norte e o Centro-Oeste, mas precisamos considerar que a população também é menor, há menos empresas, e as distâncias são maiores. O impulso inicial do associativismo empresarial precisa de ações locais e conexões relativamente próximas, então as distâncias dificultam um pouco a criação de redes nessas regiões.

RNS: O varejo alimentício lidera o número total de redes e centrais de negócios dentro da pesquisa, por que esse segmento tem sido tão adepto ao associativismo?

Douglas Wegner: É um segmento em que uma empresa, para ser competitiva, precisa de um mínimo de escala. Você até vai ao supermercado do bairro comprar um produto de última necessidade, mesmo que o preço seja mais caro, mas você dificilmente fará o rancho do mês se precisar pagar muito mais caro. Ou seja, um pequeno supermercado tem duas alternativas: ser uma opção apenas para compras de última hora ou de conveniência para os moradores do bairro, ou entrar para uma rede e obter melhores preços, qualificação e uma marca forte. Acho impressionante que pequenos mercados, que certamente estariam fadados à falência atuando sozinhos, conseguem se qualificar e oferecer uma ótima experiência de compra aos clientes atuando em rede.

RNS: Na sua opinião, quais diferenciais as redes e centrais trazem para o mercado?

Douglas Wegner: As redes associativas e centrais de negócio têm algo que não se encontra nas grandes empresas e nem nos modelos de franquia: a proximidade com o cliente e a flexibilidade que esse modelo de negócios permite. O empresário da peque na empresa que participa de uma rede precisa se adequar aos padrões da rede, e isso é positivo para o seu negócio. Mas ele também tem alguma autonomia para atuar de acordo com características específicas da sua região. Em outras palavras, o cliente encontra um negócio bem estruturado, com uma boa experiência de compra, mas ao mesmo tempo continua sendo atendido pela família empresária e com uma sensação de proximidade. Isso não existe nas franquias e nas grandes empresas. Então esse é o ponto forte das redes para o mercado. Além disso, o empresário continua participando diretamente das decisões estratégicas da rede, aquelas que irão influenciar o seu negócio.

RNS: Quais são as tendências para os próximos anos e como o associativismo pode impactar no crescimento dos negócios?

Douglas Wegner: Vejo algumas tendências importantes para o associativismo empresarial:

Primeiro, as redes precisam ter uma proposta de valor muito clara, que vá além das compras conjuntas. Isso significa definir um modelo de negócios e uma estratégia clara, e, depois, garantir que todos estejam alinhados com essa estratégia. Em resumo, escala é o básico, mas não é suficiente para se posicionar no mercado e fazer os negócios crescerem.

Segundo, as redes precisam investir em transformação digital. Isso significa ir muito, mas muito além de e-commerce. As redes precisam ser ‘organizações data-driven’, ou seja, elas precisam trabalhar com o que há de mais importante hoje: dados. Infelizmente muitas redes ainda estão bastante atrasadas nesse processo, preocupando-se basicamente em comprar melhor dos fornecedores, quando precisariam investir em digitalização.

Terceiro, as duas tendências anteriores só poderão se concretizar se houver uma forte profissionalização das redes. Elas precisam ser gerenciadas com extremo profissionalismo e os empresários devem entender que isso só é possível contratando profissionais de ponta e dando autonomia a esses profissionais. Os empresários, participantes da rede, devem indicar a direção que a rede deve seguir, mas deixar os profissionais levarem a rede nessa direção.

Quarto, as redes devem se aproximar umas das outras. Não faz sentido termos dezenas de redes de um mesmo setor no Brasil, cada uma delas competindo localmente. Profissionalização e transformação digital, por exemplo, exigem muito investimento, e isso só existe quando há escala de negócios. Sigo instigando as redes para que deem o próximo salto, que consiste em abrir mão da sua visão individual para colaborar com outras redes. Já temos bons exemplos no Brasil de redes de redes, mas precisamos espalhar esse movimento com velocidade.

Quinto e último, vejo a necessidade das redes associativas se unirem para defender interesses comuns. Outros países, como a Alemanha, só alcançaram a força atual do associativismo porque as redes formaram entidades fortes e que as representam. A entidade ZGV, na Alemanha, representa 310 redes que reúnem 230.000 empresas de médio porte. No Brasil estamos começando esse movimento, com entidades como a Febramat e o Fórum Nacional de Redes Associativistas, mas precisamos conclamar as redes de todos os setores e regiões a se unirem nesse esforço. Mais do que uma tendência, é uma necessidade.

RNS: Tem algo mais que você acha importante destacar a partir da sua pesquisa?

Douglas Wegner: Já saímos do individualismo das empresas solitárias para criar esse belíssimo movimento de associativismo empresarial que existe no Brasil. Agora precisamos ultrapassar o individualismo das redes solitárias para criar um Fórum Nacional de Redes Associativistas que seja capaz de mostrar a governos e representantes políticos como as redes são importantes para o desenvolvimento do país. Se a sua rede ainda está atuando sozinha, procure outras redes e junte-se a esse movimento. Dessa ação surgirão muitas novas oportunidades e a sóciedade terá uma visão mais clara da importância das redes para o desenvolvimento do país.

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