ACESSIBILIDADE NA EMPRESA
No contexto mundial, atualmente temos mais de um bilhão de pessoas vivendo com alguma forma de deficiência. Essas pessoas são chamadas de PcDs (Pessoas com Deficiência). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, pelo menos 45 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, esse número corresponde a quase 25% da população do país. Ou seja, a cada 4 brasileiros, 1 é deficiente ou terá num futuro próximo algum tipo de deficiência, isto é, os sobreviventes de acidentes de trânsito ficam com sequelas que limitam os movimentos do corpo. Logo, não se pode desprezar essa parcela da população, que necessita de serviços e produtos acessíveis.
Pensando nessa considerável população de consumidores, é preciso conhecer a diversidade no campo das necessidades específicas de cada deficiência para depois entender pelo viés da empatia como elas poderão ser atendidas nos pontos de venda de cada empresa. Para isso, é necessário implementar formas de contemplar essas necessidades, por exemplo, quais as necessidades que um idoso precisa? As de um cadeirante são complementares? E as necessidades de um cego ou de um surdo? Obviamente que não. Cada um possui uma especificidade que envolve mobiliário, recursos pessoais e comunicativos distintos.
No quesito de acessibilidade, o uso de rampas e elevadores, bem como de pisos táteis e textos em braile é relativamente fácil de implementar em qualquer empresa. Para além disso, é necessário que haja o trabalho de conscientização e treinamento do corpo de funcionários que trabalham diretamente com o público geral e/ou específico.
Esse último público, o surdo, representa quase 10 milhões de consumidores que apresenta algum tipo de surdez desde a categoria leve à severa. Sua maior barreira é a comunicativa. Esse tipo de deficiência é considerada invisível porque não é percebida até que haja a necessidade de comunicação. Somente depois da tentativa de nos comunicarmos com um surdo é que percebemos como isso pode ser difícil. No entanto, é um considerável nicho de mercado. Certamente a empresa que se preocupa com esse público poderá chegar a 40 milhões de clientes a nível nacional, considerando seus familiares e amigos.
A empresa que se preocupa com esse tipo de público certamente ganha destaque entre os concorrentes, uma vez que a diversidade é vista pelo público geral com bons olhos, ganha um novo público, infelizmente, ignorado pelas outras. Desta forma, as pessoas com deficiência são potenciais consumidores da sua marca produto ou serviço quando são atendidas as suas necessidade de consumo, tais como, falta de rampas ou rampas inadequadas, portas inacessíveis dos estabelecimentos, falta de ergonomia de mobiliário, altura de balcões e prateleiras inalcançáveis, inexistência de audiodescrição nos meios comunicativos, falta de comunicação em língua brasileira de sinais, Libras.
De acordo com a pesquisa da Accenture, as PcDs nos Estados Unidos possuem poder aquisitivo que pode chegar a meio trilhão de dólares e no Brasil, segundo o IBGE, 5,3 bilhões de dólares. Já o relatório do American Institutes for Research (AIR), estima que essas pessoas fazem parte de uma ampla rede social e “o número de pessoas que poderiam comprar bens e serviços para essa população mais do que dobra”. A compra de produtos e serviços de uma PcD depende de várias questões entre elas, o marketing que em sua abordagem atual já alcança esse público nas propagandas nas mídias sociais e nos meios de comunicação convencionais. Quando antes não eram representadas por por garotos e garotas nas propagandas.
O atendimento às condições das pessoas com deficiência está baseado na Lei de acessibilidade de número 10.098 de dezembro de 2000 em seu Art. 1o “estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação.” Assim, a falta de conhecimento e de investimento em acessibilidade e inclusão coloca as empresas em desvantagem mercadológica, não somente em relação ao seu capital humano, mas também financeiramente porque deixa de atender um público que vem crescendo tanto por parte das pessoas com deficiência, quanto daqueles que defendem essa causa.
O investimento em diversidade precisa ser levado a sério. Outro ponto a ser considerado e não menos importante é a contratação de PcDs para compor o quadro de funcionários da empresa. Estabelecer uma cultura e comunidade de conscientização tem um custo quase zero e um ganho inestimável em talento e relevância para qualquer negócio. As pessoas com deficiência são muito criativas e possuem visões distintas do restante do corpo da empresa podendo auxiliar na resolução de problemas que passam despercebidos por gestores e demais funcionários. Ou seja, a empresa que adota essa conduta só tem a ganhar no atendimento e contratação de pessoas com deficiência.
Maria Adriana Domingos Da Costa Uchoa, Designer, Profa. Mestranda, intérprete e Guiaintérprete de Libras.