De olho nas classes com menor poder aquisitivo, empresas focam em produtos mais populares
Bolsa Família e programa de renegociação de dívidas devem ajudar a retomada de consumo das classes C, D e E
O reajuste real do salário mínimo, o Bolsa Família e o futuro programa de renegociação de dívidas devem contribuir para o retorno do consumo das classes C, D e E. De olho neste movimento, indústria e prestadores de serviços têm desenhado produtos adequados ao bolso desses brasileiros.
As companhias admitem que há obstáculos a serem superados para o consumo popular deslanchar, como inflação e juros altos. No entanto, enxergam vários motores a favor desse movimento. O reajuste real do salário mínimo e a manutenção de R$ 600 para o Bolsa Família devem injetar mais recursos na economia. O governo também já indicou que deve lançar o “Desenrola”, um programa para a renegociação da dívida das famílias, e pode acabar com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para eletrodomésticos. Esses produtos também estão próximos de esgotar um ciclo de vida útil, iniciado há 10 anos.
A GTEX, que há 50 anos fabrica itens de limpeza doméstica para as classes de menor renda, traçou a sua rota para o novo ciclo de consumo popular. Dona das marcas Urca, Baby Soft, UFE, entre outras, a empresa comprou no ano passado quatro fábricas em diferentes regiões do País. Uma das aquisições foi no Nordeste, em Feira de Santana, na Bahia, onde há um grande contingente de menor renda. As novas unidades se somaram às cinco existentes espalhadas pelo País.
A meta da companhia é faturar R$ 2 bilhões até 2024, com alta de 60% ante 2022. “Esse crescimento está ancorado na expectativa da volta do consumo popular, principalmente regionalizado”, afirma Talita Santos, CEO da empresa.
Além disso, a empresa pretende entrar no segmento de detergente para louça com a marca Urca, cujo preço é 20% menor do que a líder. A empresa já vende detergente para louça no Norte e no Nordeste e o plano é cobrir o País todo no segundo semestre.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), desde a eleição presidencial, o humor dos mais pobres melhorou. A confiança no futuro da economia avançou entre as famílias com renda mensal de até R$ 2,1 mil e superou a da faixa mais rica da população – aquela que ganha mais de R$ 9,6 mil.
Em janeiro, o índice de expectativas nas famílias de baixa renda, apurado dentro da confiança do consumidor, atingiu 108,4 pontos, enquanto entre as famílias de maior renda ficou abaixo de 100 pontos, permanecendo, portanto, no campo do pessimismo.
“Tem um aumento das expectativas que foi influenciado nesse período pós-eleição. Há uma expectativa de que o novo governo faça alguma diferença para as famílias de mais baixa renda”, afirma Viviane Seda, coordenadora das Sondagens do Ibre/FGV. “Mas eu ressalto que há uma expectativa muito forte em relação ao emprego e isso não parece ser uma realidade, algo palpável para gente atualmente, considerando que temos uma atividade econômica que desacelerou.”
Mesmo num cenário mais difícil, o potencial de consumo das classes C, D e E está longe de ser desprezível. E é exatamente isso o que move, neste momento, as companhias a criarem produtos na medida certa para esse consumidor. No cenário atual, a Tendências Consultorias estima que a massa de renda disponível dessas classes deve somar R$ 665,5 bilhões neste ano.
Para Flávio Calife, economista da Boa Vista, a inadimplência, o endividamento, os juros e a demanda por crédito, neste momento, não estão em níveis propícios ao avanço do consumo popular no curto prazo. A inadimplência do consumidor encerrou o ano passado com avanço de quase 20%, segundo o indicador do birô de crédito, e segue com tendência de alta.
Mas ele pondera que há fatores exógenos que podem ter impacto no consumo, como o “Desenrola”. “Se o programa acontecer, poderá dar algum tipo de estímulo ao consumo”, afirma.
Fonte: SA Varejo
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