GESTÃO FINANCEIRA: O ESSENCIAL QUE TODO VAREJISTA PRECISA SABER
Normalmente, a falta de liquidez no supermercado está associada a falhas de organização das finanças. Muitos varejistas acreditam que somente verificando o saldo final de caixa têm a tranquilidade de manter o supermercado sempre lucrando.
Primeiramente, é preciso entender que dinheiro em caixa e lucro são pontos completamente diferentes. É preciso ter essa distinção de conceitos bem clara, quase sempre, o problema financeiro se torna crônico pela errônea ideia de que o que sobra no caixa é lucro, quando isso é a liquidez do supermercado, ou seja, o supermercado pode ter lucro, mas, se na hora de pagar as contas, o dinheiro ainda não tiver entrado no caixa, não vai ter liquidez. Logo, não terá dinheiro suficiente para honrar os compromissos financeiros assumidos. Portanto, se estiver faltando dinheiro, terá que buscar em outras fontes, normalmente instituições financeiras.
Para isso é preciso rever a gestão financeira, identificar onde está o gargalo do dinheiro do negócio e, então, dar a direção correta dos recursos. Podemos dizer que a gestão financeira é a ciência de administrar o dinheiro do seu negócio, do seu supermercado, para proteger e multiplicar seu patrimônio. Afinal, se o objetivo é lucrar, você precisa garantir que a empresa fature o suficiente para cobrir seus astos e ainda gerar valor para o seu bolso.
Para isso, não basta que a loja venda mais para manter as finanças em dia, é preciso ter um controle rigoroso dos custos e despesas, planejar o orçamento, controlar o estoque, entre outras ações que garantem a saúde financeira do supermercado.
Da mesma forma que controlamos nosso orçamento pessoal (CPF) para pagar contas e poupar, precisamos cuidar das finanças do supermercado (CNPJ) para garantir que os ganhos sejam suficientes para cobrir os gastos e ainda sobre um valor positivo para o bolso do varejista. É preciso entender a importância em ter o financeiro organizado. Erros cometidos na gestão acabam fechando as portas para conseguir crédito para o negócio.
Portanto, é de vital importância ter documentos contábeis que demonstrem as operações realizadas pela empresa, os comprovantes mostrando o que entrou e saiu de
dinheiro com comprovação de notas fiscais ou documentos que as substituem, controle dos ativos fixos e provar como irá pagar o empréstimo caso a loja necessite.
Uma das coisas que eu sempre comento é que quando o varejista precisa dispor de algum bem particular, como terrenos, imóveis, dentre outros bens, para pagar dívidas da empresa, é porque existe algo que não está indo bem. Estou falando em pagar dívidas, é claro que, se a loja está realizando investimentos, a disponibilização de um bem particular num determinado momento é algo até louvável. Afinal, a empresa está crescendo mais. Neste caso o varejista oferece um bem como garantia à instituição financeira e consegue juros menores, além de prazos mais extensos para pagar.
É por isso que o controle financeiro da empresa é uma tarefa muito mais complexa, e as vezes, delegada a pessoas com pouca experiência. Portanto, tenha pessoas certas e comprometidas, com experiência e visão de negócio para cuidar do financeiro, para equilibrar as contas, pois esse processo diário é vital para os negócios.
Entre as funções do gestor financeiro, estão a análise de resultados, planejamento financeiro, captação de recursos, levantamento de custos, análise de investimentos, gestão das cobranças, controle do fluxo de caixa, controle de contas a receber e a pagar, etc.
O nosso objetivo será mostrar durante as próximas edições o essencial que todo varejista precisa saber sobre gestão financeira, pontuando os conceitos básicos que embasam essa ciência administrativa.
Vamos começar falando deles. Existem vários conceitos importantes que fazem parte do dia a dia das finanças dentro de um supermercado. Podemos começar citando aqui:
• Ciclo financeiro: é o período que a empresa tem que bancar com caixa porque a venda ainda não foi recebida, é a diferença entre o prazo médio de pagamento dos fornecedores e o prazo médio de recebimentos dos clientes. O importante é que o supermercadista conheça esse fluxo para manter o capital necessário em caixa e conciliar as datas de pagamentos e recebimentos, de modo que o negócio tenha um ciclo financeiro tranquilo e eficiente.
• Fluxo de caixa: é uma ferramenta que mostra a movimentação financeira da empresa, o movimento de entradas e saídas de dinheiro do caixa, ou seja, o que o supermercado recebe e o que paga, registradas em detalhes (por tipo de conta) para que o supermercadista tenha uma visão diária, semanal e mensal da movimentação financeira da empresa.
• Gestão dos ativos e passivos:
o Ativos são bens e direitos que a empresa possui, como imóveis, veículos, móveis e equipamentos, maquinário, investimentos, saldo bancário, aplicações financeiras, estoques, contas a receber e outros direitos que compõem o patrimônio da empresa.
O Passivo corresponde aos deveres e obrigações do negócio, como dívidas com fornecedores, obrigações fiscais e trabalhistas, empréstimos e financiamentos.
Tanto ativos quanto passivos são itens que impactam o patrimônio do negócio e a diferença entre os dois é o Capital de Giro Líquido ou folga financeira.
• Capital de Giro: são os recursos no curto prazo, próprios ou de terceiros, necessários para sustentar as atividades operacionais no dia a dia da empresa. Essa reserva em caixa deve ser suficiente para cumprir as obrigações da empresa e cobrir os custos enquanto não entram as receitas, mantendo o funcionamento regular do negócio e evitando “rombos” financeiros.
• Necessidade de Capital de Giro: é a falta de sincronia entre os tempos de pagamento e recebimento, que pode fazer com que a operação não gere dinheiro no prazo necessário para sustentar a atividade. Varia conforme o ciclo financeiro da empresa, pois quanto mais demorar a receber, mais longo será o ciclo financeiro e maior será a necessidade de capital de giro.
• Custos e Despesas: é a partir desses gastos que se define o preço de venda ideal dos produtos, onde cortar custos e como melhorar os resultados do negócio mês a mês.
Portanto, não se deixe iludir pelo lucro ou pela liquidez que a sua empresa tem no momento. É importante o supermercadista entender conceitos de gestão financeira e
vamos detalhar esse passo a passo durante nossas próximas conversas.
Paulo Afonso , é economista, prof. Orientador do MBA em Varejo PECEGE ESALQ-USP, consultor associado da Associação Paulista de Supermercados (APAS) e Associação Mineira de Supermercados (AMIS), Instrutor do Sebrae-SP e Consultor em Gestão Financeira.