Mulher responsável por qualidade de cachaça rompe preconceitos e acredita em igualdade no setor
As bebidas alcoólicas são vistas por alguns ainda como algo masculino, desde os bares mais simples até as cervejarias artesanais com homens de barba. Para as mulheres, restam os drinks adocicados e cor-de-rosa.
Os estigmas seguem do consumo à indústria, mas essa situação vem mudando pouco a pouco. Na Ypióca, cachaçaria de origem cearense, uma mulher ocupa pela primeira vez desde a fundação da empresa, em 1846, o cargo de Master Distiller.
A profissão de Master Distiller já é reconhecida em todo o mundo e é um dos cargos mais admiráveis de uma fábrica de bebidas destiladas, pois são eles os responsáveis pela produção e qualidade dos líquidos. É uma posição historicamente associada ao universo masculino, então eu sinto que sou parte do início da mudança desse cenário”
ANA CAROLINA CORRÊAMaster Distiller
Segundo ela, as mulheres que trabalham no setor de bebidas alcoólicas passam ainda diariamente por preconceitos, mas o incentivo para que elas ocupem também esse espaço é o caminho para a mudança.
Master Distiller
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos com ênfase em Qualidade Química e Sensorial de Bebidas Alcoólicas pela USP, Ana Carolina começou a se interessar pelo universo de bebidas alcoólicas ainda durante a graduação, há 12 anos.
A vontade de se especializar em cachaça veio do da paixão nacional pela bebida. Hoje, ela gerencia todas as fases do processo de produção do líquido na cachaçaria, desde o corte da cana ao envase, em um ambiente que ainda hoje é bastante masculinizado.
Entre as atividades que exerce estão desenvolver blends, capacitar o time técnico, bem como gerenciar o armazenamento e envelhecimento de líquidos. O trabalho na empresa começou há 1 ano e 5 meses.
A Master Distiller explica que o cargo que ocupa traz muita responsabilidade com relação à qualidade do produto que chegará ao consumidor. A preparação e o estudo que ela teve até chegar a esse ponto dão a ela uma maior segurança.
É um pouco assustador entrar e ver que você vai assumir uma posição que na maior parte das indústrias quem ocupa é um homem. Mas como eu estudei por muitos anos sobre isso, foi natural. Mas eu sofri preconceitos. Não só eu. Eu trabalhava com outras mulheres e isso era comum”
ANA CAROLINA CORRÊAMaster Distiller
Mulheres na produção e no consumo
Ana comemora que, por mais que ainda haja preconceito, o número de mulheres no setor tem aumentado ano a ano.
“Antes a bebida alcoólica para mulher era a bebida doce. Não era para mulher por ser forte. Isso foi um rótulo que deram para mulher. Hoje aumentou o número de mulheres trabalhando no processo e o número de consumidoras também”, pontua a pioneira no cargo.
A profissional destaca que exercer seu papel de liderança se tornou mais fácil devido a lideranças femininas serem comuns na Diageo, empresa multinacional que detém a marca Ypióca. Ela defende a importância de mulheres ocuparem espaços na indústria de bebidas.
“Primeiro para desmistificar que é só para homem. Temos que ter equidade em todos os setores, tem que ter igualdade de gênero. Mas a gente agrega em habilidades também, sensibilidade. Em tudo a gente agrega”, defende.
Para ela, o estudo e a especialização são caminhos para que tanto homens como mulheres ingressem no ambiente das fábricas. É, também, uma das rotas para a igualdade.
Fonte: Diário do Nordeste