Inteligência artificial pode revolucionar o sistema de crédito brasileiro
Esses mesmos bancos colocam mais atenção ao aumento do spread, mas, no geral, são agressivos na arrecadação monetária. O que torna contraditória a quantidade de impedimentos colocados para restringir o acesso ao crédito para as classes mais baixas. Dados do Serasa mostram que os bancos brasileiros costumam negar 44% das solicitações de empréstimos, financiamentos e outras concessões financeiras para quem recebe menos de cinco salários mínimos por mês. O cenário se inverte quando o solicitante recebe acima disso, fazendo a rejeição cair para 18%.
O Relatório de Cidadania Financeira de 2021 do Banco Central aponta que os brasileiros adultos com acesso ao crédito não passam de 49%. São aqueles que possuem uma renda maior e conseguem oferecer bens como garantia. Esses ainda são os que mais privilegiados nas reservas disponíveis para crédito:
R$ 1 trilhão – 10% da população (classes A e B)
R$ 914 bilhões – 40% da população (classe C)
R$ 258 bilhões – 50% da população (classes D e E)
As alegações dos bancos para os obstáculos de empréstimos são as mais diversas. As instituições financeiras continuam se baseando na quantidade de dinheiro nas contas bancárias de pessoas físicas e suas movimentações para conceder ou não crédito. Além disso, a forma mais garantida mesmo de conseguir ainda é via alienação de algum bem. Sabemos que a maior parte das famílias das classes C, D e E não possui garantias, como terrenos, carros e outros bens de alto valor agregado, para oferecer aos credores. E isso gera um baita impeditivo para a mobilidade social no país.
Assim, vamos formando um ciclo vicioso: famílias com endividamento crônico possuem score de crédito ruim e repassam isso a futuras gerações, que também serão carentes de recursos para consumo.
A realidade é que a maneira de avaliação para concessão de crédito no Brasil é mal construída e continua estagnada. Estudos recentes sobre inclusão financeira no Brasil mostram que 27% das pessoas das classes C, D e E possuem condições plenas para honrar pagamentos e fazer aquisições de maior valor financeiro. É preciso fazer uma reforma do sistema de crédito brasileiro. Os bancos estão perdendo dinheiro com a aplicação do credit scoring baseado em bens acumulados, ao invés de fazê-lo com base em comportamento apurado através de big data.
O Brasil já possui tecnologia disponível para minimizar essa questão, mas ainda pouco explorada por parte de instituições financeiras. Temos empresas de inteligência artificial que oferecem solução de coleta e modelagem de dados para construção de um score de crédito preciso, assertivo e personalizado, sem depender de grandes bureaus. Assim como startups focadas em descomplicar o acesso a cartões de crédito sem anuidade, providenciando diversas soluções para pequenos e médios empreendedores.
São soluções como essas, já existentes no mercado nacional, que os bancos podem, cada vez mais, ampliar o canal de crédito e reduzir o nível de inadimplência. É certo que o sistema de crédito, por si só, não é capaz de resolver completamente a questão da falta de recursos financeiros. Entretanto, ele é essencial para que famílias criem saídas para superar estes momentos — embora o crédito não gere, necessariamente, oportunidade de negócio, ele é fundamental na promoção das atividades econômicas.
Ou seja, se tivéssemos o mecanismo do crédito funcionando de forma correta, a população estaria com maior posse de recursos, obtendo mais poder de compra, e assim, aquecendo a economia. Imagina o quanto de dinheiro estamos deixando de injetar no PIB não colocando recursos na mão das classes C, D e E.
Fonte: Exame